A caixinha (Parte III)
Ainda não escuto o som da sinfonia, apenas o sussurrar da melodia da falta. Dei-me conta que em minha caixa não só há coisas a serem organizadas. Sinto falta de algo que desconheço. Como se pode sentir falta de algo que nunca se teve?
La vem elas... intensas, fazendo o meu olhar torna-se rebuscado e confuso. O que vejo não é, mas
será...
Sou tomada por uma melancolia inconstante, que se apodera de mim sem piedade, sem pedir-me licença. Não sei por que dói, queria não ouvir apenas falar, mas ela não me deixa, esta fixa na caixa e não quer sair, me diz que ela faz parte de tudo isso? Esse “isso” é o que não entendo; poderia ser diferente, por que não é diferente?
O que esta subtendido dói e me dilacera, como um câncer tomando conta de tudo o que acha a sua frente.
Vou tecer... é, como um tapeceiro, incansável e paciente sem perder o fio. E se tecer é começar, farei, mesmo perdendo o fio por minha inexperiência, ficarei em silêncio esperando minha vez, e mesmo que demore ou que não venha a ser, guardarei essa utopia dentro de minha querida caixinha, assim que eu a colocar em ordem, e depois de muito tempo á abrirei, não sei se pra arrumá-la, talvez só pra sorrir... ou esperar que elas venham mais uma vez intensas a rebuscar-me o olhar e com certeza mais cruéis, acusando-me do meu medo de não ter tentado.
Continua...