21/08/2008

Proseando

Verdade do sertão: “Quem fica com raiva leva o outro pra cama”. Diz Rubem Alves que o ódio gruda mais que o amor. Engraçado? Pense... você ama... o amor nos deixa feliz, nos faz sonhar, nos faz dormir sorrindo, cola, fica, marca, eterniza. A raiva? Ah! Essa se deixarmos toma conta. Não nos deixa dormir, sonhar, descansar. Nos deixa triste. Estou com raiva e conseqüentemente levo todos os dias a pessoas que me aborreceram pra cama. Por esses dias li a seguinte frase: “ Há rostos sorridentes onde se escondem cobras”. Acabei descobrindo o contrario de amizade, nenhuma palavra se adequou como substantivo. Sem explicação. Lembrei de Judas, o discípulo. Ao refletir sobre isso dei-me conta que belos rostos não dizem absolutamente nada, que a ação de abraçar, muitas vezes é o ato de trair; que o aperto de mão que compartilha o suor, não compartilha a prática de amar. Descobri...(deveria ter feito isso antes ). Poderia continuar a sentir raiva, mas não quero ter q levá-los pra minha cama... afinal minha cama não é tão grande assim... Passa-se o tempo, a vida segue seu rumo ao desconhecido, compartilhamos novas experiências que no final irão nos provar se realmente aprendemos com o tempo ou não. Mas se cairmos é porque haverá possibilidade de levantarmos, e se levantarmos é porque alguém nos ajudou a levantar. O abismo se aproximou, não sabíamos (ou sabíamos?) que ele estava lá... simplesmente estava, caímos, nos seguramos em galhos e esperamos... esperamos... esperamos...

15/08/2008

Lembranças

O pássaro da solidão me trouxe a reflexão. Fez-me mexer na caixinha das minhas lembranças. Me dei conta de como a solidão se tornou minha amiga. Me fez recordar. Lembrei da minha infância, de quando tudo era mais colorido e belo. Quando papai chegava do trabalho com aquele cheiro que era só seu, cheiro que me traz o retorno da ausência; quando ele me colocava em seu colo e me chamava de sua princesa. Lembrei das brincadeiras, das bonecas, dos momentos; Recordei do gostinho do bolo de chocolate da minha mãe, de minha avó com seus lindos cabelos brancos me ensinando a orar. E como não lembrar dos meus irmãos me arrumando para ir à escola e fazendo do ato de pentear os meus cabelos “O Mundo de Sofia”! Naquele tempo as pessoas eram diferentes. Mas tudo não passa de lembranças, lembranças que estão guardadas em um lugar onde as coisas se tornam eternas. O tempo passa, a vida caminha em longos passos ao desconhecido. Amadureço, logo envelheço, e os momentos únicos da minha infância são projeções do que fui e o reflexo do que me tornei. Ainda não sei o que me tornei, vou pensar sobre isso. A chuva esta vindo, e junto com ela vem ventos de esperança; o céu esta cinza, mas é um cinza colorido de memórias. Vou retornar a minha solidão, mas não estou só. Paradoxo? Não... Apenas são.

14/08/2008

Solidão

Um pássaro pousou no meu jardim, o pássaro da solidão. Ele me fez refletir sobre o que acontece realmente quando estou só (tenho um encontro com o meu eu). Sinto-me triste, mas minha tristeza não vem da solidão vem sim dos pensamentos que surgem. Percebo que a solidão tem sua beleza, como diria Rubem “não a beleza de uma sinfonia que para ser bela precisa ser tocada ate o final”, mas sim a beleza da ausência, do encontro com o que não se vê mas se sente. Sinto, sinto saudade do retorno da ausência, de algo que ficou na lembrança, como uma fotografia, um momento congelado na memória. Sendo assim considero a solidão minha amiga (me faz recordar). Ah! Lembrei-me de Nietzsche que tinha a solidão como companheira. Sozinho, ele tirava alegria de longas caminhadas nas montanhas, ouvia música e lia os livros que amava. Percebo então três companheiras na solidão, logo não estou só. Saudade, ausência, retorno, não sei... apenas me permito sentir saudade, perceber a ausência e retornar ao que passou. Fico eu aqui com minha solidão, esperando o pássaro ir embora. E se ele for? Não sei se quero que ele se vá.